No mundo dos blogs

Saturday, February 11, 2006

Nas ondas da Internet

Uma das mídias que tem pouco espaço na própria mídia é o rádio. Diferente de sua prima rica, a televisão, cujos bastidores têm cobertura maciça de jornais e sites de Internet. Porém, há mais de dois anos um blog vem tentando satisfazer as necessidades dos rádio-amantes. O Rádio Base começou modestamente como um blog e hoje é o mais importante portal independente dedicado ao assunto.

A estrutura do Rádio Base é simples: há um guia de links para emissoras de rádio de todo o país; textos de fôlego escritos por jornalistas e radialistas sobre o veículo; arquivos de som com trechos de programas históricos de rádio; além disso tudo, há também um programa de rádio experimental, o Rota 77 com o melhor do punk rock no Brasil e no mundo.

Mas o sustentáculo do portal é o blog no qual a dupla Marcos Lauro e Marcos Ribeiro, o primeiro radialista e o outro jornalista, postam notícias e análises sobre o rádio. Tudo começou quando Ribeiro conversava com um colega sobre a Internet. “Ele disse que, se soubesse como se fazia páginas na Internet, faria uma só sobre cachaça. E sugeriu que fizesse uma sobre rádio, já que eu gostava tanto do assunto. Comecei a fuçar e descobri que poderia montar uma no Terra à Vista, de Portugal.” Dessa forma ele fez o Rádio Gagá, um embrião do que seria o Rádio Base. “Dois anos depois, descobri um tal de blog, que o pessoal usava para escrever, e que saía na hora na Internet. Chamei o Marcos Lauro e ele topou fazer”, completa.

A iniciativa de Marcos Ribeiro em usar a ferramenta para falar de rádio foi pioneira. “Perguntei à Cora Ronai, do Globo, que entendia tudo de Internet, se tinha mais algum blog de rádio. Ela pesquisou de tudo que foi jeito e depois me mandou a resposta dizendo que éramos os primeiros a fazer um blog assim, pelo menos no Brasil.”

O Rádio Base atua de forma independente. Os dois Marcos o tocam pelo simples prazer, sem ganhar dinheiro com isso. Mas isso é algo que não preocupa Ribeiro. Quando perguntado se ele pensa em profissionalizar o portal, fez até uma brincadeira com este repórter: “Quero sim. Você não quer ser meu diretor comercial? Estou precisando de um cara que entenda do riscado. Eu só sei escrever. Se você conseguir um anunciante legal, te dou até 20%. Topa?”

Uma das características mais marcantes do Rádio Base é a interatividade com os leitores, transformando dessa forma o blog num espaço importante para a discussão sobre a qualidade do rádio. O LABORATÓRIO POP aproveitou para saber um pouco mais de Marcos Ribeiro sobre o panorama atual das nossas FMs musicais atualmente. Uma de suas principais críticas é quanto ao excesso de rádios clandestinas no ar. “Hoje em dia tem muita rádio pirata enchendo o saco, quando você quer ouvir uma rádio comercial de potência menor. Antigamente, no tempo da ditadura, soava até heróico essa transgressão radiofônica ao poder militar. Hoje em dia, pirataria é uma coisa ridícula, quando a gente pensa que qualquer pessoa pode fazer rádio pela Internet sem encher o saco de ninguém com indesejáveis interferências. Isso se lembrarmos que uma rádio ilegal corre o sério risco de não ser ouvida nem pelos seus vizinhos da rua de baixo”, diz.

Marcos Ribeiro não deixa de apontar uma alternativa a quem deseja colocar sua emissora no ar. “Na Internet, pelo menos, algum conhecido seu que more em outra cidade distante pode ouvir sua programação, nem que seja para dar uma força”, afirma.

Com relação à programação musical, a principal crítica que se faz é à repetição daquilo que é veiculado nas rádios voltadas para o público jovem. Sempre os mesmos artistas, com as mesmas músicas. A culpa seria do ouvinte, que é conservador demais e gosta de ouvir aquilo que já conhece, ou dos programadores que ousam pouco? “Depende do segmento. As rádios de rock e de pop têm um pessoal muito medroso (eu ia dizer bundão, mas é feio, né?). Quando é uma rádio de audiência certa, como a Jovem Pan, Mix, 89, é até compreensível que eles não queiram trocar o certo pelo duvidoso”, responde.

O estranhamento de Marcos Ribeiro é com emissoras que estão em posições intermediárias do ranking de audiência, e mesmo assim, insistem em copiar fórmulas bem-sucedidas, em vez de trilhar caminhos alternativos. Ele dá um exemplo que acontece em São Paulo “O que eu não entendo são emissoras como a Metropolitana – que está arrastando a cachorra - insistir num modelo que tá na cara que não vai funcionar nem comendo muito jabá. Se fosse diretor desta rádio, botava pra foder. Metia no playlist bandas novas, desconhecidas, que só tem demo tape feito em casa, ou em alguma gravadora minúscula. Se iria dar certo, só Deus sabe. Entretanto, se desse errado, pelo menos teria valido a tentativa de acertar. O que não dá é para ficar sendo uma cópia mal feita da Jovem Pan”, afirma.

Pela descrição feita por Marcos Ribeiro, impossível não lembrar da Fluminense FM, do Rio de Janeiro, que justamente abriu sua programação para a veiculação de fitas-demo de bandas importantes que escreveram a história do rock brasileiro dos anos 80. Ele acha que existe espaço para uma emissora desse tipo. No entanto, faz uma única ressalva “O problema é colocar gente no departamento comercial com disposição suficiente para 'vender' o conceito de rádio como essa para o mercado publicitário”, diz.

Existe no meio rádio uma palavra que causa muita polêmica chamada jabaculê. Ela designa a prática das gravadoras em pagar para que o trabalho de um determinado artista entre em alta rotação na lista de uma emissora. “Não sou contra o jabá. Depende da forma como é praticado. Ele pode até ser um bom incentivo para o artista, mas também pode ser excludente e fatal”, diz. Marcos Ribeiro, porém, considera que a questão do jabá não se limita apenas ao rádio "Creio que o grande equívoco é tratar o jabaculê como um fenômeno só radiofônico. E não o é. Na televisão, pelo que se comenta, tem muitojabá. No jornalismo impresso também. Jabaculê não é ilegal. Estão tentando torná-lo um crime, mas isso é demagogia", afirma. Ele vai mais longe e acha que o próprio ouvinte não se importa muito com essa questão: “Mais de 80% dos ouvintes nunca ligou se na rádio que eles ouvem tem ou não carne seca na parada. O ouvinte quer a música que ele gosta - ou acha que gosta”, diz.

Sobra uma crítica de Marcos aos radialistas que, segundo ele, por medo de represálias ou por falta de coragem, juram que nunca participaram de esquemas de jabá. “Os únicos que admitiram isso até hoje foram o André Midani e Tutinha, da Jovem Pan. O restante diz que não faz ou porque quer passar por ‘bom moço’, ou porque nem vê a cor da bufunfa”, diz.

Jazz, charuto e uísque

O jazz pode não ser um gênero de visibilidade no mercado. Porém, agrega uma série de ouvintes fiéis que mantêm acesa a sua chama. O blog vem sendo utilizado de forma eficiente na intenção de reunir seus admiradores. LabPop encontrou um não apenas dedicado ao jazz, mas também a acompanhamentos para a sua audição, a saber: o charuto e o uísque. É o Charuto, Uísque, Jazz e Blog (http://web.archive.org/web/20040713214842/http://www.charutojazz.blogspot.com/).

O CJUB é um projeto coletivo. Dezenove internautas são responsáveis pelas atualizações, sempre com comentários sobre os mais recentes lançamentos, além de resenhas de shows e dicas sobre o que há de melhor no mundo dos charutos e do uísque. A idéia foi de Mauro Nahoum, um dos integrantes do grupo de blogueiros. Ele conta sobre o início do projeto: “Tudo começou quando resolvi dar visibilidade - e ao mesmo tempo, preservar - às interessantes informações trocadas com amigos sobre o que estavam ouvindo ou descobrindo no jazz, paixão comum a todos os membros do blog. O blog foi a forma mais simples que encontrei para isso”, diz.

E a combinação entre o jazz, o charuto e o uísque? “Foi natural, baseada nos hábitos dos fundadores. O uísque, para a grande maioria, e os charutos, para alguns, são ótimas companhias para ajudar no relaxamento propício para uma audição do jazz prazerosa. Pudemos juntar esses itens em nossas casas, em reuniões para ouvir jazz. Mas sempre com decorrências domésticas no day-after”, explica Mauro Nahoum. “Uma de nossas grandes demandas, ainda hoje, é por um lugar confortável onde se possa juntar tudo isso ao mesmo tempo”, acrescenta.

O CJUB já está no seu segundo ano. Seu lançamento oficial aconteceu no dia 10 de maio de 2002. “Inicialmente perguntei a dois amigos jazzófilos se topariam trocar idéias sobre jazz pela internet. Quando aceitaram e um terceiro foi contatado e se interessou, lancei o blog”, afirma Nahoum. Com o decorrer do tempo, outras pessoas foram chegando aos poucos nas reuniões promovidas pelo grupo. Algumas delas são ilustres no mundo jazzístico. “Fato curioso: foi uma grande alegria quando dois pesos pesados do conhecimento jazzístico se juntaram a nós. O José Domingos Raffaelli, um dos maiores conhecedores de jazz no Brasil, senão o maior, amigo de minha família, uma enciclopédia com mais de 60 anos dedicados ao jazz e habitualmente muito reservado, foi convidado a uma dessas reuniões e aceitou ir. Nessa tarde, lá já estava o Arlindo Coutinho, veterano produtor musical e grande incentivador dos músicos brasileiros. Foi uma grande confraternização, até por conta dessas importantes aquisições, que está bem viva na memória dos lá presentes”, conta Nahoum.

O número elevado de integrantes faz com que alguma tendência da história do jazz se sobressaia no CJUB ou há espaço para o ecletismo? “Sem dúvida, a preferência, na média, é pelos movimentos do swing, be-bop, cool e hard-bop, mas, entre nós, há apreciadores, alguns verdadeiros connaisseurs, do latin jazz, traditional, free, e mesmo fusion, mas, neste último caso, não o pop-jazz estilo ‘música de elevador’ (o que se convencionou chamar, na mídia, de ‘jazz contemporâneo’), mas o pop/rock mais elaborado, com forte presença de ingredientes jazzísticos (Steely Dan, Pat Metheny, Mahavishnu Orchestra, Headhunters, Return to Forever, Weather Report, Blood, Sweat and Tears, p. e.)”.

Além do blog, o CJUB mantém um prêmio chamado “Os melhores do jazz”. Tudo começou a partir de uma homenagem. “Depois do tributo que fizemos a Jorginho Guinle - com sua presença no Mistura Fina em novembro de 2003 - em produção chamada ‘Jazz Panorama’ (tal como o obrigatório livro de sua autoria), onde mostramos um panorama do jazz ao longo da história, o mês de dezembro foi reservado para uma jam session para a qual convidamos todos os músicos que já haviam se apresentado desde o início de nossas produções, começadas em março de 2003. Decidimos então eleger entre nós, os músicos, os concertos, a casa de jazz, o festival etc, de que mais havíamos gostado naquele ano e criamos o Premio CJUB Melhores do Ano, cujos diplomas foram entregues numa grande festa em dezembro. E pretendemos mantê-lo para os próximos anos, pois é uma forma de prestigiar quem se destacou no ambiente jazzístico. E é uma premiação relevante porque leva em conta apenas os votos de verdadeiros interessados no que há de melhor, sem ‘política’ de qualquer espécie”, explica Nahoum.

Para terminar, o CJUB atendeu a um pedido deLabPop. Que fizesse a combinação dos melhores álbuns dos artistas citados com o melhor charuto e o melhor uísque a acompanhar a audição.
MILES DAVIS
Kind of Blue (Sony/Columbia)Bag´s Groove (Fantasy/Prestige)
“Tais preciosidades representam uma síntese da história do jazz e, portanto, sugerimos uma audição acompanhada de um malte poderoso, o Lagavulin 16 y.o., ladeado por um estupendo Vegas Robaina “Don Alejandro” (Doble Corona)”.
CHET BAKER
Chet (Fantasy/Riverside)
“Chet Baker nos invoca a essência do cool, parceria perfeita para o supremo Jameson, uísque irlandês de rara textura e de um incomparável H. Upmann nº 2 (Pirâmide)”CHARLIE PARKER
Bird and Diz (Verve) - este mediante importação.
“Representação maior da revolução do jazz, para os felizardos que ainda possuírem algumas gotas, o uísque só poderá ser o President, jóia maior da coleção dos cães engarrafados, acompanhados, por evidente, de um Trinidad, o puro mais importante do mundo”. DUKE ELLINGTONIndigosDuke Ellington - The Count Meets The Duke - First Time! (Sony/Columbia)Duke Ellington - Ellington At Newport 1956 - Complete (Sony/Columbia)
“O swing maior de D.E. nos invoca um favorito dos 8 anos, “Dewar’s”, dada a necessidade de repetidas doses; e o puro ideal seria um Ramón Allones robusto, de traço incomparável”DIZZY GILLESPIE
The Dizzy Gillespie Big 7 At The Montreux Jazz Festival 1975 (Fantasy/Pablo)Dizzy Gillespie Y Machito - Afro- Cuban Jazz Moods (Fantasy/Pablo/OJC)
“Os fundamentos do bebop, incomparavelmente expressados por D.G., nos remetem ao sabor de um 12 anos de boa cepa, o extraordinário Chivas Regal, favorito de muitos apreciadores do precioso líquido, que deverá ser acompanhado de um Cohiba Esplendido, também para muitos o maior de todos”.

Friday, February 10, 2006

Do lado de fora do Pato Fu

Ao mesmo tempo em que lança seu mais novo CD, “Toda a cura para todo mal”, um dos integrantes da banda Pato Fu vem conseguindo arrumar tempo para tocar um projeto paralelo. Porém, não se trata de nada ligado à música. O guitarrista John se juntou ao compositor Rubinho Troll e ambos colocaram no ar um blog, o 665, o Vizinho da Besta (http://665ovizinhodabesta.blogspot.com)

Rubinho e John tocaram juntos na banda Sexo Explícito, nos anos 80. O primeiro era o vocalista, enquanto o segundo cuidava da guitarra. Deixaram um hit solitário chamado “Faca”. John formou depois o Pato Fu e o resto da história é de conhecimento geral. Rubinho já teve músicas gravadas pelo próprio Pato Fu. As mais conhecidas são "O filho predileto do Rajneesh" e “A necrofilia da arte”. Agora, os dois voltam a trabalhar juntos, mas fora do ambiente musical.

“O 665 tem a mesma motivação de muitos blogs... Um espaço pra escrever o que vier à cabeça, coisas que não teriam onde ser publicadas, considerações, arte inacabada e sem lugar”, afirma John ao LABORATÓRIO POP. Ele deixa claro que todo o conteúdo do blog é de caráter puramente pessoal. “Não tem a ver com o Pato Fu - o que escrevo lá não tem a assinatura da banda”, diz. Talvez para deixar essa diferença mais clara, John e Rubinho, assim como muitos blogueiros, escolheram o Blogspot para ser o hospedeiro e veículo de suas idéias, e evitaram usar a super-estrutura do site do Pato Fu.

John diz que acompanha blogs de amigos na internet. Sobre a blogosfera propriamente dita, John acha que esse fenômeno ocorre pela simplicidade. “Ele acontece porque é fácil ficar com vontade de se ter um blog. Simples de fazer. E se você começa a ter idéias pra escrever, tem onde colocá-las”, diz. A respeito do nome usado para batizar o blog, John tem uma explicação sucinta para sua escolha: “Bobeira pura e simples”.

Os textos mais recentes falam sobre música. Rubinho traçou algumas linhas sobre System of a Down. Por sua vez, John analisou de forma bem cética o revival dos anos 80. No final, ele faz uma provocação: “Dito isso, acho que está na hora de relançarmos aqueles maravilhosos álbuns do Sexo Explícito e faturarmos milhões hein, Rubs? Ou será que vamos esbarrar na incompreensão das massas ignóbeis novamente”?

Farofa assumida

A viagem que o Laboratório Pop tem feito através dos blogs musicais completa sua terceira semana. Mesmo com tão pouco tempo é possível apontar algumas tendências. Uma delas, mais comum, é o “blog de fã”. O nome já diz tudo. Pessoas que são fãs de um artista solo, banda ou um determinado estilo musical utilizam a ferramenta para prestar seus tributos. Um dos que mais chamou a atenção foi o Bonevelhojovi (http://bonevelhojovi.blogspot.com), nem tanto pela banda em si. Afinal, devem existir centenas de blogs dedicados a eles. A diferenciação neste caso está no fato de que seus responsáveis são homens e assumidamente heterossexuais, todos decididos a enfrentar qualquer tipo de preconceito para tornar pública a sua predileção musical e não ter vergonha disso.
O Bonevelhojovi já foi destaque aqui na semana passada. Porém, como sua proposta é uma das mais originais dentro da blogosfera, vale a pena mergulhar um pouco maos nela. Para isso, o Laboratório Pop conversou com Renato Thibes. Ele é publicitário e tem 26 anos. Decidiu montar o blog com outros amigos por estar cansado de ouvir gracinhas e a tradicional reação: “Oh, você gosta de Bon Jovi”.
A idéia desta homenagem incomum ao Bon Jovi vem ganhando adeptos a cada dia. “Cada vez a gente encontra mais gente que gosta e está perdendo a vergonha de assumir”, diz Thibes. Ele começou o blog ao lado de Vlad, um amigo seu e colega de profissão que chegou a tocar bateria no Ludov. “Depois entraram o Markus e o Luiz, outros amigos nossos fãs da banda. E mais tarde, ganhamos o reforço do Tiago e do Renato Doho, que nem conhecemos pessoalmente, mas entraram no blog, se identificaram e foram convidados a participar”, conta. A confraria tende a aumentar cada vez mais: “Sempre há lugar para mais um farofeiro por lá”, afirma.
Ninguém monta um blog dedicado ao Bon Jovi nessas circunstâncias e fica impune. Manifestações de preconceito são freqüentes. “Outro dia, no meu trabalho, quando descobriram o blog, vieram obviamente tirar sarro, falar que Bon Jovi é coisa de viado", diz Renato. Ele leva tudo isso na boa, incluindo zoações de colegas blogueiros: “Já vi outros blogs desconhecidos tirando sarro, mas eu não me importo com eles”.
No Bonevelhojovi há espaço para tudo que se relaciona à banda. Desde histórias cotidianas vividas pela equipe do blog que tem como pano de fundo o grupo, como neste trecho postado por Vlad: “Putz...sábado teve festa de final de ano aqui do trabalho. Em determinado momento, auxiliado pelos efeitos do álcool em meu organismo, comecei a cantar Bon Jovi. Hoje descobri que minha performance fora filmada. Puxa vida...Ainda bem que não ficou tão ruim...”. Os integrantes pretendem até montar uma torcida organizada do Philadelphia Soul, time de futebol americano patrocinado por Jon Bon Jovi. E não poderiam faltar anúncios oferecendo edições importadas de CDs e singles que não foram editados aqui.
Outro chamariz do blog é sua coesão, tanto nos textos como no tratamento ao vocalista da banda. “Se você ler, vai notar que todos nós escrevemos do mesmo jeito, falando sobre músicas farofas e tratando “o Jon" como se ele fosse o John Lennon ou o Elvis Presley.”, diz Renato. Só falta mesmo um manual de redação e estilo.
O Bonevelhojovi é a mais perfeita encarnação do “blog de fã”. Seria este gênero um substituto dos fanzines, publicações rudimentares de papel surgidas nos anos 70 e dedicadas para extravasar toda a paixão por uma banda? Renato Thibes não costuma visitar blogs desse tipo: “Prefiro sites mais estruturados nos quais você consiga encontrar o que quer. Como blog é mais fácil de atualizar, acho que muita porcaria acaba indo pro ar. Acho que os sites, sim, podem substituir os fanzines, pois são levados mais a sério”, diz. Para ele, os blogs já estão saindo de moda e sendo trocados pelos fotologs, que classifica de horríveis. “Eu sou adepto daquela teoria de que fotologs, salvo raríssimas exceções, são para narcisistas que não sabem escrever direito”, acrescenta.
Convidado pelo Laboratório Pop, Renato Thibes fez seu top 5 de músicas do Bon Jovi. É uma seleção, como ele mesmo diz “do momento”: 1) “Livin' on a prayer” , 2) “Someday I'll be saturday night”, 3) “Hearts breaking even”, 4) “In these arms”, 5) “Just older”. Porém, a marca sonora registrada do blog é “You give love a bad name”. Quem entra nele, é apresentado a uma versão midi para o hit mais famoso do Bon Jovi que toca sem parar, servindo como trilha para a leitura dos posts.

A saudade não pára

"Cazuza - O tempo não pára" é uma das maiores bilheterias do cinema nacional de 2004. Seu mérito é apresentar a história de um de nossos mais talentosos cantores e compositores às novas gerações. Porém, muito antes de o filme estrear, a memória de Cazuza vem sendo cultuada em blogs adolescentes como o de Mariana Guedes, 17, responsável pelo Exagerada Verdadeira (http://amocaju.blog.uol.com.br)

Esta piauiense natural de Teresina conheceu o trabalho de seu ídolo de maneira curiosa. Caetano Veloso foi o responsável por apresentar Cazuza a ela. "Adoro as composições de Caetano e acompanho seu trabalho desde os 12, 13 anos. Certa vez o ouvi interpretando Todo amor que houver nesta vida e fiquei maravilhada com a letra. Logo descobri que não era de sua autoria. O compositor era Cazuza aquele cara bonito e polêmico que eu havia visto algumas vezes na TV. Comprei uma coletânea de Cazuza e a paixão tornou-se desenfreada", diz.

Um dos resultados dessa paixão desenfreada foi o blog na internet. "Eu respiro Cazuza. A filosofia, as idéias e as angústias que ele expressa em sua poesia tem muito a ver comigo", diz. "Eu já tinha a intenção de homenageá-lo, mas de uma forma sutil, apenas mostrando o quanto ele se faz presente em minha vida. Escrever um blog e falar dele foi inevitável. Acabei exagerando e o blog passou a ser dele, ou melhor, para ele", complementa.

Exagerada Verdadeira traz textos escritos por Mariana, transcrições de sites noticiosos e fotos. Numa delas, ela aparece deitada numa praia e com o nome de Cazuza escrito na areia. Outra mostra uma tatuagem muito especial que ela fez no pé. "Tatuei CAJU no pé temporariamente (henna) durante as férias em Fortaleza. Durou apenas algumas semanas". O que foi uma coisa temporária pode se tornar permanente no futuro: "Tenho planos de cravar o nome dele no meu pulso", afirma a exagerada.

Cazuza teve duas fases em sua carreira. Uma como líder do Barão Vermelho e outra, solo. De qual das duas Mariana gosta mais? "A fase solo da carreira de Cazuza me agrada mais por ser mais romântica, mais madura. No entanto, o trabalho com o Barão Vermelho foi maravilhoso: um rock de garagem despojado como só eles souberam fazer", responde. Sobre o Barão da atualidade, ela diz acompanhar muito pouco. "É uma nova formação; é diferente do que eu costumo ouvir no CD do Rock in Rio 1985". Mesmo assim, ela só tem elogios a Frejat: "Ele é um artista excepcional, gosto de suas músicas".

Da carreira solo, o álbum preferido de Mariana é "O tempo não pára (ao vivo)". Segundo ela, "é um disco leve, lindo". Foi uma fase importante na carreira do Caju. E "Faz Parte do Meu Show" é a música com a qual mais se identifica: "É uma obra-prima de uma doçura e sinceridade ausentes em muitas pessoas", diz.

No blog, Mariana se diz fã de Lucinha Araújo, mãe de Cazuza e co-autora do livro "Só as mães são felizes", que serviu de base para o filme. "Ela é uma mulher incrível: ultrapassou barreiras intransponíveis para muitas mães. Amou e ama Cazuza de uma maneira divina. Seu trabalho na Sociedade Viva Cazuza, que cuida de crianças portadoras do vírus HIV, é louvável", afirma.

Mariana diz que assistiu a "Cazuza - o tempo não pára" quatro vezes. Um ponto positivo destacado por ela é o elenco: "É de primeira: Marieta Severo como Lucinha, Reginaldo Farias como João e principalmente Emílio de Melo como Ezequiel Neves, numa atuação magnífica. Daniel de Oliveira parece incorporar Cazuza: uma verdadeira enxurrada de emoções", diz.

Haveria espaço para a música de Cazuza entre os adolescentes de hoje? "Até alguns meses, para muitos adolescentes, Cazuza era apenas um cantor vítima da Aids, infelizmente. Ele tem espaço maior entre os adultos (jovens de sua geração) que conheceram sua carreira de perto. Com o filme foi possível apresentar Cazuza e o rock dos anos 80 à juventude contemporânea, muitas vezes entretida com a falta de expressividade e mesmice musical que o país atravessa. A maioria dos jovens ainda está conhecendo Cazuza, cantarolando alguns de seus versos, buscando seu legado. Sua influência em todas a gerações, inclusive na minha, só tende a crescer".

Protesto virtual

A turnê do Offspring em terras brasileiras deu o que falar, mas não pelo lado musical. O show que aconteceu na cidade de Porto Alegre no último dia 18 de outubro teve uma mudança de última hora que causou muita confusão. A banda gaúcha Walverdes, convidada para fazer abertura, foi substituída por outra, a Tequila Baby, e por um motivo absurdo. Os integrantes do Offspring desaprovaram a escalação e exigiram a troca. O problema é que toda a divulgação já tinha sido feita utilizando o nome dos Walverdes. Quem foi ao Gigantinho e não os viu tocando antes dos californianos ficou sem entender nada.

O LABORATÓRIO POP conversou com o baixista Patrick Magalhães para saber um pouco mais desse caso, que já ganhou o bem-humorado nome de "Walverdesgate". Segundo ele, alguém da produtora Opus Produções (cujo nome Patrick preferiu não revelar) fez contato com a banda. "Citaram nosso nome, como uma ‘banda nova’, ligaram para o Marcos, nosso baterista, e fizeram o convite, faltando cerca de três semanas pro show", diz.

Entre o acerto e a dispensa não houve nenhum tipo de problema envolvendo o Walverdes e a produtora. "Aparentemente, tudo ia bem", diz Patrick. Porém, uma nova ligação faltando 48 horas para o show mudaria tudo. "No sábado à tarde, dia 16 de outubro, ligaram pro Marcos dizendo que não tocaríamos mais. Pediram desculpas e disseram que nos convidariam para abrir um outro show futuramente", diz Patrick. O motivo seria o tal veto.

Haveria algum motivo para o Offspring desaprovar a participação do Walveredes, uma banda independente com quase 11 anos de estrada? "Talvez não tenham achado que as músicas que estão no site da Tramavirtual tivessem a ver com o som deles. Não sei se ouviram a Tequila Baby também", responde Patrick. Uma reportagem publicada pelo jornal porto-alegrense Zero Hora no dia que seria da apresentação definia da seguinte maneira o trabalho do Walverdes: "o som direto e barulhento do trio, com ênfase nas guitarras e na velocidade, guarda semelhanças com o do quarteto californiano, embora a relação não seja direta".

Sobre a postura da banda que os substituiu, Patrick diz que "A Tequila Baby foi convidada pela Opus para tocar no nosso lugar, e tocou. Apesar disso, nossa indignação é com a produtora, e não com a banda". Porém, ele dá a entender que há algo no ar: "Problemas entre as bandas são assuntos que estão sendo resolvidos diretamente entre nós e eles", diz.

Para Patrick, a possibilidade de abrir um show para o Offspring era uma ótima oportunidade para o Walverdes. "Já tocamos em festivais grandes antes, mas esse certamente seria o maior público, e em casa", afirma. Uma nota oficial publicada no blog da banda (http://www.walverdes.com/blog) fala em "medidas jurídicas": "Danos morais, e o que mais tivermos direito", informa o baixista. A busca por justiça não fica restrita apenas à banda. Os fãs também irão procurar seus direitos. "Algumas pessoas que foram pra ver a gente comentaram na internet que vão processar a Opus por propaganda enganosa", diz Patrick.

Quando perguntado sobre possíveis lições a se tirar desse episódio, Patrick acha que "os profissionais da Opus estão aprendendo muito mais com esse episódio do que a gente"

Outro lado - A reportagem do LABORATÓRIO POP tentou manter contato com a assessoria de imprensa da Opus (http://www.opuspromocoes.com.br/opus.htm). Um e-mail foi encaminhado no dia 20 de outubro, às 11h46. No entanto, até às 23h00 do dia 26, data em que este texto foi entregue à redação, não houve resposta. O espaço para esclarecimentos por parte da empresa que promoveu o show do Offspring em Porto Alegre continua aberto.

Nota do redator: os esclarecimentos nunca vieram

Aos Morrisseymaníacos

Uma das grandes notícias de 2004 no campo musical foi a volta do cantor Morrissey ao maravilhoso mundo dos lançamentos de CDs. Após um longo período de ausência, ele colocou no mercado o ótimo "You are the quarry", provando a todos que ainda tem muita garrafa vazia para vender em pleno século XXI. Morrissey é um caso típico de artista que tem fãs fiéis, independentemente de estar na crista da onda ou não. E seu trabalho não poderia passar em branco na blogosfera, território livre para adoração absoluta. Um dos blogs brasileiros com essa finalidade que se destaca na rede é o Santuário Smiths ( http://santuariosmiths.blog.uol.com.br/).

O LABORATÓRIO POP conversou com Veri Morrissey, 20, para falar, não apenas de seu blog, mas de outros aspectos da carreira de um dos grandes nomes do rock dos anos 80, seja na carreira solo ou com os Smiths. "Qualquer pessoa que tenha um pouco de cultura musical sabe que os Smiths foram umas das maiores bandas de rock dos anos 80 e conhece pelo menos uma música", explica, ao ser perguntada de que maneira ela conheceu a banda. "Quando eu comecei a me interessar por rock alternativo foi inevitável que os Smiths surgissem no topo da lista de bandas fundamentais. Foi uma das que mais me identifiquei, me enxerguei dentro delas". Depois da descoberta, Veri quis conhecer mais e teve um auxílio precioso na busca de mais informações. "Os aprofundamentos de meus conhecimentos aconteceram graças a pesquisas feitas na internet, já que nem sempre é possível contar com outras mídias se o que você tem interesse não está no Top 10 da MTV", diz.

O blog surgiu depois de uma conversa que Veri manteve com um amigo também fã da banda "Como sempre acabamos falando deles, ele sugeriu que fizéssemos um blog". No fim das contas, quem vem cuidando de tudo até aqui é ela. "Ele apenas deu a sugestão". O Santuário Smiths costuma reproduzir muitos textos publicados em sites e revistas nacionais tanto sobre Smiths como Morrissey. O LABORATÓRIO POP perguntou a Veri qual a sua opinião acerca do tratamento dado pela imprensa brasileira ao trabalho desenvolvido pelo cantor e compositor. "Atualmente se dá pouca atenção ao trabalho dele. Hoje existem muito mais bandas e outros ritmos que estão na moda. Em termos de divulgação saiu uma capa de revista e uma matéria no caderno de cultura num jornal de São Paulo. Rádios e televisões não contribuem praticamente em nada para a cultura alternativa". Porém, existe um outro aspecto que a incomoda. "A imprensa também parece se importar muito com o fato de ele ser ou não gay, o que é totalmente irrelevante. No entanto, isso parece ter valor para mídia, muitas vezes até mais do que seu trabalho", diz.

Veri gostou de "You are the quarry", que marcou o retorno de Morrissey. Para ela, é o mesmo Morrissey de sempre, mas trazendo algum tipo de renovação. "O álbum apresenta algo de novo, uma sonoridade mais moderna, há muitos sintetizadores; os outros soam mais guitar band, são trabalhos mais crus", diz.

Sempre que se fala com um fã de Morrissey, uma pergunta é inevitável. Qual é a melhor fase de sua carreira? Como líder dos Smiths ou artista solo? "É inevitável que me venha os Smiths à cabeça. Não há para mim outra banda que se compare a eles em termos de composição, letras e musicalidade. São raras as bandas que conseguiram chegar a um estágio elevado de composição e ser influência para tantas outras. Embora Morrissey tenha feito grandes músicas em carreira solo, são duas coisas diferentes. Eu acredito que os Smiths sempre serão um marco tanto na minha vida como na de outros fãs", responde Veri.

Sobre os ex-integrantes dos Smiths, Veri acompanha bem o trabalho do ex-guitarrista Johnny Marr, principalmente com o Eletronic. "É uma música bem produzida, mas pessoalmente não me agrada muito. Acho que foi uma surpresa para todos os que estavam acostumados com a filosofia Hang the DJ...embora aquela fosse uma opinião pessoal de Morrissey, acho que ninguém conseguia enxergar um ex-Smiths fazendo música eletrônica. Dos outros integrantes não tenho conhecimento", diz.

A blogueira, num de seus posts, mostrou-se indignada com a versão para "How soon is now" gravada pela dupla (hoje desfeita) de lesbo teens tAtU. Ela chegou a classificar a gravação como uma atrocidade. Mas como sempre existe o outro lado da moeda, essa regravação não serviria para que essa nova geração de ouvintes pudesse conhecer o trabalho de Morrissey? "Não creio que isso seja possível", responde Veri. "Uma pessoa que curte esse tipo de som nunca irá compreender o que é ouvir Smiths. São públicos distintos. Mesmo porque eles nem estão interessados em saber que a música é de um cara chamado Morrissey. Outro dia eu a estava ouvindo em casa e minha prima comentou espantada ‘essa música não é do tatu?'. Pode parecer grotesco, mas para muitas pessoas o que não está nas paradas de sucesso não tem valor algum" decreta.

Para finalizar, a pedido do LABORATÓRIO POP , Veri fez uma lista com as músicas compostas de Morrissey de que mais gosta. Com os Smiths, ela destaca "Hand in glove", "What difference does it make? , "The boy with the thorn in his side", How soon is now?" e There´s a light that never goes out". Já em sua carreira solo, ela elege as seguintes músicas: "November spawed a monster", "Sunny, now my heart is full" e "Everyday is like Sunday".

A quem possa interessar

O lance é o seguinte. Este blog reúne os textos da coluna de blogs que eu mantive no site Laboratório Pop entre os anos de 2004 e 2005 no site. Divirtam-se.